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Capela Santo Frei Galvão / Santa Crescentia, Guaratinguetá, SP

Capela Santo Frei Galvão / Santa Crescentia, Guaratinguetá, SP

Vitrais e membrana tensionada

Produzida com perfis tubulares, a estrutura metálica dá a forma de tenda à capela, que tem em seu envoltório cinco vitrais curvos, com vidros artesanais em 21 tons de azul, intercalados por membranas tensionadas de PVC, reforçadas com tecido de poliéster.

Comunidade terapêutica de recuperação dos mais variados tipos de dependência, a Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá, SP, preparou-se para receber o papa Bento 16, em sua primeira visita ao Brasil, erguendo um templo de desenho singelo, mas com eficiente tecnologia construtiva. A capela Santo Frei Galvão/Santa Crescentia – consagrada ao primeiro santo brasileiro, nascido naquela cidade, e à santa venerada na Alemanha, terra natal do papa – ganhou um ar contemporâneo, com a associação de vitrais e membranas de tecido de PVC envolvendo a estrutura metálica que lhe dá forma.

Segundo os autores do projeto, arquitetos Lília Campelo e Artur Diniz, dois aspectos nortearam a concepção arquitetônica: a volumetria, simbolizada pela tenda, uma referência a um dos primeiros espaços de celebração da humanidade; e a utilização de formas orgânicas no interior da construção. “Tudo isso resultou na busca de uma relação com o meio ambiente local, a serra da Mantiqueira, em uma área de preservação ambiental”, explica a arquiteta.

Perfis tubulares

Perfis metálicos curvos, com diferentes alturas, garantiram a estrutura em forma de tenda, dandodinamismo à volumetria final. Pesando cerca de 30 toneladas, a estrutura metálica da capela compõe-se dedez colunas tubulares retangulares e eqüidistantes. Elas têm 20 centímetros de largura e 75 centímetros de altura, e comprimentos aproximados de 19 metros na maior extensão e 15 metros na menor. Todas as peças foram fabricadas pela Composite, em São Bernardo do Campo, SP, e levadas para a obra em comprimentos e medidas exatos, sendo fixadas com parafusos em sapatas de 3,50 metros de profundidade e 0,80 metro de largura.

Na composição das colunas tubulares, empregaram-se chapas USI-SAC 300, enquanto os chumbadores constituem-se de barras redondas SAE 1010/1020. Como tratamento superficial, a estrutura recebeujateamento de areia comercial e uma demão de tinta epóxi com dupla função (fundo e acabamento), de cem micra de espessura.

As colunas foram fixadas através de chapas de base comchumbadores cravados no concreto e reguladas com calços em chapas finas, para manter o nivelamento e a união precisa de todas as pontas no alto da construção. Peças de grande porte tiveram junções aparafusadas exatamente no meio de seus comprimentos, ficando os parafusos embutidos no interior das estruturas.

“Além do prazo de entrega da obra, que teve de se adequar à data da visita do papa ao país, um dos desafios foi combinar o nivelamento das bases e a coincidência de todas as colunas no alto, unidas a um tubo vertical de 60 centímetros de diâmetro, formando o espigão do centro da capela”, explica Alfredo Armando Pires, diretor da Composite.

Vidros azuis

“Para atender ao desenho proposto para os cinco vitrais, foram utilizados vidros de formatos triangulares. Isso possibilitou diversos planos de assentamento, sem repetição, atingindo cerca de 1.100 medidas, entre vidros incolores e artesanais”, informa José Guilherme Aceto, diretor da Avec Design. A empresa foi responsável pela consultoria, logística de marcação, projeto metálico de encapsulamento, corte, fabricação e montagem dos vitrais.

A base do vitral, a 15 centímetros do piso, recebeu laminado incolor de dez milímetros, no total de 181 metros quadrados, cobertos por 97 peças. No restante, que vai até 15 metros de altura, foram utilizadas, em 280 metros quadrados, cerca de mil peças de vidro artesanal, colado estruturalmente, em 21 tons de azul, com texturas especiais. No topo da edificação, vidros laminados incolores permitem a passagem da iluminação natural, fazendo uma mescla com a luz dos vitrais, que entra pelas laterais. A fixação dos vidros foi feita com o sistema EcoGlazing, no qual as peças são encaixadas nas estruturas de aço com o auxílio de borracha de silicone vulcanizada a alta temperatura (HTV).

Segundo José Guilherme, os vitrais foram fabricados simultaneamente à construção da estrutura da capela. À maneira tradicional, seria impossível executar o trabalho no tempo exigido e garantir bons níveis de impermeabilização, devido à forma retorcida da superfície dos vitrais. Para o cálculo prévio da quantidade de vidros importados em tons de azul, fez-se necessário o rebatimento dessas superfícies, desenhadas inicialmente em 3D e, em seguida, retificadas para 2D. Depois de lançada a estrutura metálica principal, foram fixados arames, com rebites, para ser feita a medição in loco. Com as medidas reais, realizaram-se novos detalhamentos, dimensionando-se cada triângulo – medidas e ângulos -, para, então, serem iniciados o corte e a colagem dos vidros.

Membranas tensionadas

Entre os vitrais, repetem-se cinco faces brancas commembrana de PVC reforçada por tecido de poliéster, cuja camada interna de blackout proporciona maior conforto térmico e proteção contra os raios solares. O arquiteto Carlos Bauer, gerente de projetos da Pistelli, responsável por essa etapa da obra, explica que no dimensionamento das peças foram utilizados softwares especiais para modelagem de superfícies anticlásticas (com curvaturas em sentidos opostos). Otensionamento foi feito retesando as membranas em direção ao solo com o uso de cabos de aço embutidos na base de cada peça, por meio de esticadores estrategicamente posicionados nas bases das colunas metálicas. As laterais de cada triângulo foram fixadas à estrutura através de perfis especiais de alumínio, pelos quais a membrana desliza de acordo com a tração exercida pelo cabo de aço. Cada seção de membrana mede cerca de dez metros na base e tem 17 metros de altura. As peças foram modeladas manualmente e soldadas com equipamento de alta freqüência, que funde o PVC, mas conserva o tecido de poliéster, de alta resistência.

Formas orgânicas

No interior da capela, o piso é revestido de filetes de pedra Itacolomi, impermeabilizado com resina. Ele é circundado por um jardim de pedriscos nas cores branco e palha, blocos de pedra local e bromélias. Um lago, com traçado orgânico, começa ao lado da porta principal e toca o perímetro do piso. Sempre acompanhando as formas naturais, o projeto arquitetônico orientou o tipo de mobiliário adotado - blocos de pedra tanto para o altar, como para a cadeira do celebrante e o sacrário. Os bancos de madeira, em louro-rosa maciço, também seguiram o formato do piso, adequando-se à área interna do templo. O anexo, que constitui a sacristia, liga-se ao corpo da igreja através de uma circulação entre o jardim interno e o lago.

Os arquitetos Lília Campelo e Artur Diniz são autores de outras duas capelas – em Manaus e em Masbate, nas Filipinas -, ambas pertencentes à Fazenda da Esperança.

Fonte: arcoweb
Texto resumido a partir de reportagem de Jaime Silva
Publicada originalmente em FINESTRA
Edição 52 Março de 2008