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Edifício-sede do Tribunal Regional do Trabalho, Goiânia

Edifício-sede do Tribunal Regional do Trabalho, Goiânia

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Fachadas duplas contra o sol do cerrado. Com monumentalidade horizontal e fachadas duplas que controlam a entrada de calor, o primeiro edifício concluído do complexo do Tribunal Regional do Trabalho, em implantação na capital goiana, estabelece escala própria em meio a um contexto caótico, resultante da recente verticalização de um bairro predominantemente residencial. O projeto foi o vencedor do concurso público nacional de arquitetura, promovido pelo TRT com o suporte do IAB/GO (leia PROJETO DESIGN 336, fevereiro de 2008).

Os jovens arquitetos Daniel Corsi, Dani Hirano e Reinaldo Nishimura podem se considerar privilegiados. Eles não só venceram um concurso nacional de projetos como estão vendo a obra ser executada, fato incomum na história recente da arquitetura brasileira.
O volume escuro e horizontal que abriga o fórum trabalhista é o primeiro edifício do novo complexo do Tribunal Regional do Trabalho em Goiânia e foi inaugurado em maio último, respeitando integralmente os conceitos da proposta vencedora.
“Desde o começo houve gestão administrativa do TRT para implantar o projeto, uma vez que as instalações existentes já não atendiam às necessidades”, afirma Corsi.

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Ao se aproximar, o observador nota a presença do vidro, principal elemento de identidade e expressão do edifício

“Acreditamos que a segunda etapa terá início muito em breve, pois o processo de licitação para a demolição das outras construções existentes no local já está em andamento”, adianta Hirano.

Além do edifício do fórum, o projeto prevê a construção de subsolo, plenário e a ampliação e remodelação do prédio mais recente dentre os vários que ainda dividem espaço com o novo bloco.

Esses dois volumes delimitarão uma grande praça pública com 60 metros de largura e cem de extensão que será a responsável pela conexão externa entre os edifícios e pela definição dos principais acessos ao complexo. Da largura total da praça, 12 metros foram concluídos juntamente com a primeira etapa.

O edital do concurso já previa uma construção de grandes dimensões, que se tornasse um referencial arquitetônico em uma cidade carente de edificações emblemáticas.

No entanto, da época do certame para cá, mudanças na legislação urbana permitiram a implantação de edifícios residenciais no entorno, todos com alturas bem superiores ao gabarito de quase 40 metros do fórum, máximo permitido pelas regras anteriores.

Apesar de caótico, o novo cenário não chegou a comprometer a monumentalidade do complexo. A escada no percurso de acesso traduz a ideia da ascensão e leva à praça central, diante do primeiro volume finalizado – um bloco de dez pavimentos com 80 metros de comprimento e 30 de largura (dimensões semelhantes à do Masp, porém com o dobro da altura).

Sem desrespeitar a escala humana, o conjunto estabelece uma paisagem singular com referência própria e forte caráter cívico.

A volumetria com fechamento de vidro constitui o principal elemento de identidade e expressão do edifício. De longe identifica-se somente um monólito preto de aparência sólida e bruta.

Ao se aproximar, o observador percebe o vidro e a estrutura das fachadas duplas, solução considerada adequada ao clima de Goiânia por preservar a vista e a luz natural ao mesmo tempo que reduz a transmissão de calor para os espaços internos da construção. Além de cumprir papel estético, os vidros são fundamentais para o desempenho térmico.

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A grelha entre as duas fachadas também funciona como brise e ajuda a sombrear as áreas internas

A face externa da fachada dupla está a cerca de 70 centímetros da pele interna, vazio ocupado por uma grelha metálica que faz o papel de passarela de manutenção e ainda funciona como brise para sombrear as janelas.

Uma estrutura metálica fixada diretamente à estrutura de concreto dá sustentação aos grandes painéis de vidro externos, laminados com 12 milímetros de espessura e medindo 3,60 metros por 1,25 de largura. Pequenos vãos entre as placas de vidro permitem a troca de ar.

A maioria dos painéis é fixada à estrutura por meio de presilhas de pressão, enquanto as peças horizontais são coladas no perfil. Essas placas externas têm serigrafias em 12% da área, o que contribui para barrar a incidência solar.

As faces principais têm vidros com serigrafias em vermelho, cor que simboliza a instituição do direito, e as demais têm tonalidade cinza.

Os índices de transmissão de luz e calor do vidro variam conforme a fachada em que foram instalados. “O prédio está a 45 graus em relação ao norte. Conforme a época do ano, uma face ou outra vai necessitar de proteção solar”, detalha Hirano.

“Tínhamos que buscar soluções simples que viabilizassem os custos. Por isso optamos pelos laminados de 12 milímetros de espessura, para compensar o fato de o vidro não ser temperado. O tamanho e o volume deram escala para que pudéssemos desenhar a serigrafia, fazer o detalhamento e ainda assim reduzir o custo”, explica Corsi.

Com estrutura mista de concreto e metal, o edifício do fórum é de livre acesso ao público e apresenta hall horizontalizado com altura de nove metros na área de acesso e 12 metros no ponto mais alto.

Depois de atravessar a praça, o visitante entra por uma porta pequena e se surpreende com a grandiosidade do hall. Já o prédio a ser remodelado e ampliado ganhará acabamento externo com telas metálicas e apresentará hall verticalizado para dar imponência ao bloco de acesso mais restrito, destinado à presidência e aos desembargadores.

Internamente os dois blocos serão unidos pelo subsolo a partir do nível inferior, onde foram alocados a biblioteca e o plenário, cuja cobertura vai aflorar numa lateral da praça.

 

Fonte: http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/corsi-hirano-arquitetos-nishimura-edificio-institucional-goiania-13-02-2013.html

Texto de Nanci Corbioli 
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 393 Novembro de 2012
Daniel Corsi (FAU/Mackenzie, 2003; mestrado pela FAU/USP, 2012) desde 2010 é professor das faculdades de arquitetura do Mackenzie e do Senac. É sócio fundador do escritório CHN (2007/2010) e de Corsi Hirano Arquitetos (2010), ambos na capital paulista. Dani Hirano(FAU/Mackenzie, 2003) é sócio fundador dos escritórios CHN e Corsi Hirano Arquitetos.Reinaldo Nishimura (FAU/Mackenzie, 2006) foi sócio fundador do escritório CHN