enespt-br

Hotel Unique – São Paulo – SP

Hotel Unique – São Paulo – SP

Se a arquitetura do Hotel Unique é realmente única, também são únicos muitos dos elementos desenhados, projetados e construídos com engenhosidade para esta obra.

Das fachadas revestidas com lâminas de cobre aotúnel translúcido que conduz à cobertura e às soluções de fechamentos de vãos de portas e janelas, tudo no Unique tem personalidade própria.

Uma estrutura em forma de arco invertido constitui o corpo principal da edificação. Suspenso do solo, esse elemento apóia-se parcialmente, em suas extremidades, em duas empenas de concreto de
50 cm de espessura e em oito pilares distribuídos dentro do volume protegido por uma fachada de vidro – centralizado na base do arco – que abriga
o lobby. Para acessá-lo, passa-se por uma porta de 7,5 m de altura, feita com fibra de carbono, que tem como detalhe um visor de vidro preenchendo o espaço de um rasgo irregular.

Um vazio na área central do arco invertido eleva o pé-direito até a cobertura, onde estão instalados a piscina, o restaurante e um espelho d’água cujo fundo de vidro forma um rasgo e permite a passagem de luz natural. Distribuídos pelos seis andares do edifício estão os 95 apartamentos – com áreas que variam entre 36 m2 e 250 m2 – e a suite presidencial.

Na ampla área do lobby, a transparência do vidro privilegia o diálogo com o exterior. O arquiteto Ruy Ohtake concebeu um recuo de 35 m, delimitando a fachada de vidro, e ali colocou um jardim de pedras, desenvolvido por Gilberto Elkis, entrecortado por sinuosos caminhos de água que podem ser melhor observados do alto.

A proteção de vidro - que fecha a área da fachada
e avança para a cobertura – destaca-se do corpo da edificação. Ela compõe um sistema independente, formado por uma grande estrutura metálica, que serve de ancoragem para a caixilharia no sistemasilicone glazing, com vidros laminados planos e curvos de 10 mm e 12 mm, na cor cinza-escura. Todo o sistema está ancorado na estrutura de concreto armado, contando com pórticos em vigas-calhas e pilares tubulares que captam e escoam internamente as águas pluviais.

Para preservar a transparência, a Avec Verre Design, em parceria com a RCM Estruturas Metálicas, projetou para as fachadas treliças constituídas por cabos pré-tensionadosassociados a uma grelha vertical, que recebe os painéis de vidro encapsulado em silicone, sendo esse sistema responsável pela transmissão das cargas gravitacionais e laterais.

As estruturas que suportam os vidros na coberturasão compostas por treliças leves que acompanham o desenho em curvatura. A leveza dos componentes estruturais exigiu um modelo tridimensional que considera elementos principais e secundários como colaboradores para a rigidez e resistência do conjunto, otimizando as várias hipóteses de carregamentos possíveis. O envidraçamento do lobby totalizou área de 1.100 m2.

A concepção de Ohtake para o corpo principal do edifício propôs um volume em arco, marcado pelo desenho das janelas circulares. As duas faces dessa estrutura foram revestidas com placas de cobre pré-oxidadas que produzem pequenas variações de tons verdes, enquanto sua base circular recebeu revestimento de madeira – réguas de maçaranduba com 30 cm de largura.

A proposta de janelas para os apartamentos e corredores de circulação do edifício considerou dois fatores: primeiro, possibilitar ao hóspede uma vista emoldurada da cidade, sem interferências; segundo, a preferência do hóspede por alternar a utilização dear-condicionado com o sistema de ventilação natural de janelas móveis. Do estudo desses dois elementos resultou o desenho de uma janela circular, sem travessas, com abertura de 12 cm, promovida por uma leve inclinação do vidro. 

A solução veio da Itália: as 129 esquadrias circulares foram desenvolvidas pela Schüco Internacional e pela Algrad – responsável pelas etapas de colagem dos vidros e montagem da caixilharia na obra -, a partir do sistema Schüco RS 65. Inicialmente, os projetistas apresentaram um protótipo com perfis de 12 cm de largura, medida reduzida à metade para atender ao desejo do arquiteto de acentuar a leveza estética da fachada. Os perfis de alumínio receberam pintura eletrostática com acabamento acetinado.

A esquadria circular é composta por um sistema de escoamento e drenagem interna entre folha e marco, ferragem de fechamento perimetral interno de quatro pontos, com um só fecho na parte inferior, dois pistões hidráulicos e escamoteáveis, para o deslocamento controlado da folha, e mecanismo de rotação composto de duas rótulas (munhões), estando uma em cada extremidade do eixo.

Entre os itens especialmente desenvolvidos para o projeto, destaca-se o sistema de reversão com o uso de rótulas embutidas entre o marco e a folha, que substituiu os tradicionais munhões de sobrepor.

Com diâmetro de 1,80 m e eixo de rotação horizontal, essas esquadrias receberam vidros laminados de 12 mm, fixados com silicone estrutural e vedados com gaxetas importadas com densidades múltiplas, desenvolvidas especialmente para o projeto. As esquadrias foram fixadas na fachada por meio de contramarcos, projetados com perfis especiais que possibilitaram a instalação dos caixilhos pelo lado interno, liberando totalmente o acabamento da fachada.

A estrutura de concreto protendido é inovadoraquanto à forma e às soluções criadas por Ohtake.
A forte relação entre os meios externo e interno pode ser presenciada nos seis corredores do hotel, compostos por blocos curvos – cada bloco compreende quatro apartamentos. O desenho em arco da estrutura do corpo principal permitiu outras experimentações de Ohtake. Nos apartamentos de ponta, o arquiteto transpôs para o interior o desenho da curva externa, criando uma solução de continuidade em que piso e parede, revestidos com o mesmo material, sugerem um fundo infinito. “A idéia originou um espaço totalmente inovador, surpreendente e inédito”, afirma Ohtake.

Outra proposta inusitada de Ohtake: a integração dos banheiros das suítes aos quartos por meio de uma janela, rompendo com a idéia tradicional de cômodo enclausurado. A esquadria desenhada por João Armentano e executada pelo Eurocentro deveria criar a privacidade necessária e, quando desejado, abrir o espaço do banheiro para o apartamento. A janela, recolhendo no teto, permite a abertura total do vão de 1,60 m x 1,60 m, sem reduzir o espaço útil do apartamento. Fabricada com perfis de aço inoxidável escovado, a esquadria é composta por dois painéis de 1,60 m x 0,80 m, tendo seu peso sustentado por contrapesos colocados nos montantes laterais, embutidos nas paredes.
A face externa da janela, voltada para o quarto, mostra envidraçamento integral, com laminados de segurança de 5 mm + 5 mm, com dois filmes de PVB leitoso. Essa solução esconde a estrutura de aço inoxidável, visível apenas pelo lado do banheiro.

Propositalmente, os elevadores funcionam com luz mínima, envolvendo seus ocupantes em uma penumbra rompida a cada abertura de portas. 
O jogo de luz e sombra
 atinge seu ápice na saída do elevador para a cobertura, onde estão instalados um restaurante, a piscina e o espelho d’água.

As portas do elevador abrem-se para um espaço protegido pela cor preta que exerce a função de ponto de transição da sombra para a luz. Passo seguinte, o hóspede se depara com um corredor translúcido, com paredes, cobertura e portas revestidas de ônix – uma variedade de mármore semitransparente. A luz começa a invadir o espaço. 

À medida que o hóspede caminha, as portas vagarosamente se abrem, descortinando a paisagem do Ibirapuera. Aparentemente simples, essas portas têm tecnologia avançada: são duplas pivotantes, motorizadas e revestidas, em ambos os lados, de ônix, com 20 mm de espessura.

Na cobertura, a plena visibilidade da paisagem urbana
 é garantida pela transparência do vidro, presente nos fechamentos do restaurante e nos guarda-corpos. Ainda na cobertura, um espelho d’água com fundo de vidro lança iluminação natural na área do lobby, no térreo, e cria formas prismáticas a partir da luz absorvida pela lâmina de água, que promove um movimento refletido nas paredes que delimitam o vazio central do hotel.

Texto resumido a partir de reportagem
de Gilmara Gelinski e Cida paiva
Publicada originalmente em FINESTRA BRASIL
Edição 31 Outubro/Dezembro 2002

http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/ruy-ohtake-arquitetura-e-urbanismo-hotel-unique-13-01-2003.html